
Nos seus tempos áureos, a sala de cinema era um verdadeiro estouro de interesse e platéia. Com a popularização da TV no Brasil, brilhando nas salas das residências a partir dos anos 70, e com o surgimento de outros eventos de auditório depois dos anos 80, o cinema decaiu ficando meio morno nas médias e deixando de existir nas pequenas cidades.
Até o início da década de 70, Vitória da Conquista tinha 125.573 habitantes e cinco salas de cinema: o Eldorado, o Ritz, o Glória, o Riviera e o Madrigal. Guanambi, anos antes, tinha 13 mil habitantes e um cinema sempre lotado. Saiu dos 16mm pra os 70mm em pouco tempo, onde se viu películas como O Homem que matou o facínora, Os sete samurais, Candelabro Italiano, Girasóis da Rússia e tantos outros.
Hoje as cidades médias do interior do Brasil, como Itapetinga, perderam as salas de cinema que tinham para igrejas, bancos, empresas que ocuparam as edificações, gerando um sentimento de nostalgia nos antigos cinéfilos. Sem as salas, os filmes foram para as locadoras, dessas para as mãos do cinéfilo em fitas VHS, tocadas no videocassete, e em DVD, no dvdplayer, do lado da televisão do maior tamanho possível, de acordo ao bolso do consumidor, na principal sala da casa.
Nos anos noventa surge o home theater e as famílias começam a ter outra sala só para se ver filmes dentro da suas casas.
A TV metamoforseou -se em TV por assinatura e os filmes passaram a chegar via satélite. Mas a isto se acrescenta que muitos filmes estão acessíveis pela internet para serem baixados, copiados e exibidos na sala do home theater ou vendidos nas bancadas de supermercados ou no comércio informal nas esquinas. Fato é que a oferta de filmes aumentou muito, seja pela produção, seja pela distribuição, seja pela veiculação, embora tenham diminuído as salas de cinema e com isto minguado uma dada cultura, um determinado modo de ver e falar do filme assistido.
E quem não gosta de ir a uma boa sala de cinema com a turma, ver um filme como A Múmia, Bem-Hur, Onde os fracos não tem vez, Indiana Jones, Matrix, e outros mais e “bater uma resenha” depois?
No ambiente do cinema há formação, horizontes são abertos, se faz e fortalece amizades, exercita-se o espírito crítico de cada um, iniciam-se projetos pessoais de vida. Esse bate papo depois, essa troca de opinião sobre as cenas, essa imitação do personagem para execrá-lo ou elogiá-lo diante dos amigos, com reparos dos outros que amplia a interpretação, tudo isto é da ida ao cinema, não é bem do cinema dentro de casa, a menos que a turma seja reunida para isto.
Vejamos, então, uma invenção, que tem relação com essa turma e que o dicionário Houaiss traz como: "associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo e debates e para exibição de filmes selecionados". Este é o cineclube, uma iniciativa que acontece porque pessoas que gostam de cinema, de certos tipos de filmes, de certos diretores ou atores, se juntaram para criarem um espaço e se manterem vendo filmes nesse espaço, podendo depois fazer aquela velha conversa sobre o filme. Essa conversa pode ser informal ou mais ou menos formal, com o convite a alguém de quem o grupo quer ouvir a primeira opinião sobre algo do filme, e depois, ou durante, ir fazendo a sua própria resenha da película ou sobre assuntos que ela aborda. A manutenção desses encontros é o que dá a substancia do que se pode chamar um cineclube quando se tem uma pequena sala de cinema para suportar essa iniciativa. É uma boa, ou não é?