segunda-feira, 6 de julho de 2009

a mesma coisa

para Afrânio Freitas


mesmo textual a tessitura
nem sempre texto tem
tem presença e substância
tem ciência que não sabe
substantiva essência
e sem palavra certa
é predicativa sua natureza
mas não é
não cabe verbo para copular
mesmo compusesse com adjetivo
lhe prenderia em algum lugar
por isto umas palavras a mais
para dizer desse não dito
bem dito
mal dito
audito.


28.06.2009.

cineclube, por que nâo?


Nos seus tempos áureos, a sala de cinema era um verdadeiro estouro de interesse e platéia. Com a popularização da TV no Brasil, brilhando nas salas das residências a partir dos anos 70, e com o surgimento de outros eventos de auditório depois dos anos 80, o cinema decaiu ficando meio morno nas médias e deixando de existir nas pequenas cidades.

Até o início da década de 70, Vitória da Conquista tinha 125.573 habitantes e cinco salas de cinema: o Eldorado, o Ritz, o Glória, o Riviera e o Madrigal. Guanambi, anos antes, tinha 13 mil habitantes e um cinema sempre lotado. Saiu dos 16mm pra os 70mm em pouco tempo, onde se viu películas como O Homem que matou o facínora, Os sete samurais, Candelabro Italiano, Girasóis da Rússia e tantos outros.

Hoje as cidades médias do interior do Brasil, como Itapetinga, perderam as salas de cinema que tinham para igrejas, bancos, empresas que ocuparam as edificações, gerando um sentimento de nostalgia nos antigos cinéfilos. Sem as salas, os filmes foram para as locadoras, dessas para as mãos do cinéfilo em fitas VHS, tocadas no videocassete, e em DVD, no dvdplayer, do lado da televisão do maior tamanho possível, de acordo ao bolso do consumidor, na principal sala da casa.

Nos anos noventa surge o home theater e as famílias começam a ter outra sala só para se ver filmes dentro da suas casas.

A TV metamoforseou -se em TV por assinatura e os filmes passaram a chegar via satélite. Mas a isto se acrescenta que muitos filmes estão acessíveis pela internet para serem baixados, copiados e exibidos na sala do home theater ou vendidos nas bancadas de supermercados ou no comércio informal nas esquinas. Fato é que a oferta de filmes aumentou muito, seja pela produção, seja pela distribuição, seja pela veiculação, embora tenham diminuído as salas de cinema e com isto minguado uma dada cultura, um determinado modo de ver e falar do filme assistido.

E quem não gosta de ir a uma boa sala de cinema com a turma, ver um filme como A Múmia, Bem-Hur, Onde os fracos não tem vez, Indiana Jones, Matrix, e outros mais e “bater uma resenha” depois?

No ambiente do cinema há formação, horizontes são abertos, se faz e fortalece amizades, exercita-se o espírito crítico de cada um, iniciam-se projetos pessoais de vida. Esse bate papo depois, essa troca de opinião sobre as cenas, essa imitação do personagem para execrá-lo ou elogiá-lo diante dos amigos, com reparos dos outros que amplia a interpretação, tudo isto é da ida ao cinema, não é bem do cinema dentro de casa, a menos que a turma seja reunida para isto.

Vejamos, então, uma invenção, que tem relação com essa turma e que o dicionário Houaiss traz como: "associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo e debates e para exibição de filmes selecionados". Este é o cineclube, uma iniciativa que acontece porque pessoas que gostam de cinema, de certos tipos de filmes, de certos diretores ou atores, se juntaram para criarem um espaço e se manterem vendo filmes nesse espaço, podendo depois fazer aquela velha conversa sobre o filme. Essa conversa pode ser informal ou mais ou menos formal, com o convite a alguém de quem o grupo quer ouvir a primeira opinião sobre algo do filme, e depois, ou durante, ir fazendo a sua própria resenha da película ou sobre assuntos que ela aborda. A manutenção desses encontros é o que dá a substancia do que se pode chamar um cineclube quando se tem uma pequena sala de cinema para suportar essa iniciativa. É uma boa, ou não é?

domingo, 5 de julho de 2009

o branco e amarelo do silêncio


orquídea e cachorro são coisas bem diferentes. mas muito diferentes quando se trata de cria-los em casa.

já viveu na casa um vira-lata, chamado Yoshi, um cockerspainel, Cookie, uma simpática e comportada poodle, Lan-Lan e Cristal, uma impossível, traquina e espertíssima beagle. agora a dona da casa anda falando em criar um gato, embora o relacione com bruxaria, por causa de sua natureza indiferente, por não latir e só lamber a ele mesmo, mas ronronar pra ninguém, e assim temer o bichano, um pouco. eu, por todos os motivos, com ele simpatizo, e vejo o mistério dos seus silêncios como próprios do que é natural, como um jeito bom e que surpreende com as reações ariscas manifestações bem felinas.

Che, outro que passou pela casa, não latia, pois era um passarinho de bico vermelho que dei a minha filha, quando ela tinha dez anos, recém-chegada na cidade do interior, e ganhei uma bronca dela, por isto, com todos os textos de proteção às aves e sobre direito à liberdade. quando ele morreu, porque dei gergelim ao invés de alpiste, e ele desidratou de tanto fazer cocô, ela chorou com gosto e fez enterro no canteiro do quintal. disse-me hoje que um pássaro preto que passou lá por casa, também, ela se afeiçou, pois quando o entregou ao verdadeiro dono que veio buscar o fujão, ficou sentida dele se ir.

uma orquídea é aquela coisa que você mima e não sabe quando ela irá responder. esta que veem na foto foi devidamente aconchegada ao tronco da palmeira rabo-de-peixe, passaram-se semanas, meses, anos e eis que um dia ela começa a gerar essas belas flores que apareceram. não sei o quanto irão durar, não sei quando voltarão a dar o ar da graça. sei que muita graça tem ali no meu jardim, no tronco daquela bela palmeira. não late, não trina, não ronrona, mas seu silêncio é belo.

terça-feira, 30 de junho de 2009

a idéia, na janela, brinca com a arte

verde que te quero



as filhas da palmeira


auto-retrato


baby, subi numa árvore frondosa
da colina perto de casa
para tentar avistar onde a dor ficou
aquela dor que eu cultivava
como se fosse uma bala dura de chupar

eu guardava ela por uns dias
– chiclete mascado escondido numa gaveta,
e passado pouco tempo
eu a abria sobre a mesa
com um pouco de história e cerveja.

baby! para onde foi aquela dor?

você se lembra que escrevia cartas longas
equilibrava planos nas franjas
e o amor festejava entre torpor?
preferia andar nas ruas estreitas
as mesma onde me colocava de espreita
esperando o prazer passar?

baby! agora estou em outro lugar
entre o blue do céu e o blue do mar.

uma aragem perfumada vem no vento
que toca veloz nas cidades
ancorei meu barco sob o sol
faço de cada ato um anzol
para fisgar mais desejo
em minha casa desfrutar
com bom vinho e fino queijo

baby! baby! venha para cá.



maio, 2009.